quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Diálogos II


Em um bar, com uma cerveja esquentando porque se embriagar já não tem o mesmo impacto de antes e Bon Jovi sendo tocado já não te empolga.
Naquela noite fria em que tudo poderia dar certo e não deu porque simplesmente você não insistiu, ou simplesmente não tinha que dar.


Eu: Sabe, eu acho que eu criei muita expectativa...

Ele: Foi por isso o tema do último texto?

Eu: Foi, você leu?

Ele: É né...Tinha como não ler?

Eu: É, tinha esquecido...

Eu: Então...
(Interrompendo)
Ele: Você já percebeu que fala "Então" sempre que quer retomar um assunto?

Eu: Eu sei, posso continuar?

Ele: Sabe o que eu acho das suas lamúrias? Algum tipo de te fazer sentir uma auto-piedade.

Eu: Eu sempre esqueço o fato de você involuntáriamente me apoiar...

Ele: E eu realmente esqueço das suas tentativas frustradas de irônia...

Eu: Posso continuar minha conjectura?

Ele: Uso de palavras estranhas é apenas um modo de exaltar seu ego colocando algum tipo de moral...

Eu: Se eu quisesse conversar com um psicólogo teria ido conversar com minha mãe...

Ele: Você vai falar não é? Teria eu alguma chance de fugir disso?

Eu: Infelizmente não!

Ele: Ok, continue com sua CONJECTURA! (soando mais irônico do que o Rafinha Bastos)

*A forma d'Ele usar a ironia é algo que me causa inveja, eu realmente gostaria saber fazer dessa forma meus comentários.*

Eu: Você consegue imaginar uma vida com um Flou? É como eu vejo as coisas...

Ele: Prossiga, tente manter meu interesse por mais três frases...

Eu: Sabe, aquele problema com minha imaginação me sabotar, eu penso tanto em algo, de como poderia se desenrolar que é como se eu visse tudo granulado...

Ele: Sei...e?

Eu: Minha vida inteira é baseada em pensar demais e nunca agir, eu consigo sempre pensar em tantas formas que vai dar errado que prefiro ficar com meus sonhos do que ver algo se transformar em realidade.

Ele: Você já viu o filme novo do Nolan? Aquele dos sonhos?

Eu: Ahn?

Ele: Eu parei de prestar atenção na segunda parte...

Eu: É sério, isso?

Ele: Não, mas você devia arranjar uma maquininha daquelas, viver no seu sonho...

Eu: Eu tou falando sério aqui...

Ele: Você sabe como ultimamente eu criei um certo repúdio da sua maneira de romancear as coisas né? Nem tudo na vida é poético, nem tudo funciona como se quer, você não é um belo floco de neve original, como você existem centenas, milhares, quiçá milhões...

Eu: Mas...

Ele: Calma, agora é minha vez de falar...Os mesmos sonhos mesquinhos, as mesmas imbecilidades sentimentais de que existe amor no mundo e todo aquele blá blá blá que eu já estou cansado de ouvir, Se você sabe que a merda da sua vida é baseada em sonhos granulados com cores azuis e cinza faça algo, você sabe do problema e não faz nada a respeito? Que merda é essa?

Eu: Eu simplesmente tenho medo...



*Eu não liguei e meu telefone passou o resto da noite no meu bolso, o único momento de alarde foi uma sms da operadora perguntando se eu estava afim do serviço "Azaração", eles devem ter espiões.
Não continuei a conversa, eu iria passar duas horas ouvindo um discurso de como eu sou um grande medroso, logo ele me perguntou o que eu tinha realmente achado de "Os Mercenários" e a conversa foi sendo levada para outros patamares.*

O bar vai ficando vazio com o passar da noite e o garçom com cara de amigo da Paola de "A Usurpadora" logo traz mais uma cerveja.