domingo, 6 de fevereiro de 2011

Diálogos IV

Encostado no carro em uma atípica noite em que não está tão quente quanto o normal, enquanto eu bocejo porque o tédio me consome (e talvez minha cama fosse mais interessante do que simplesmente ficar na frente de um bar encostado em um carro ouvindo as mesmas músicas de sempre como garotos perdidos na década de 90) Ele faz um baseado e reclama porque mais parece um pastel.

Eu: É sério que tu tá fazendo isso aqui?

Ele: E você quer que eu faça onde?

Eu: Não no meio da rua? Você sabe que isso é ilegal né?

Ele: Desculpa pai, eu não queria que você ficasse desapontado nunca mais vou usar nada, nem beber alcool eu irei.

Essa ironias que Ele usa realmente me deixa puto, só que ás vezes elas são muito boas e me sinto mal por deixar um talento como esse ser esmagado pelo meu mal-humor.

Eu: Tá certo, continua. Se a polícia passar eu serei fichado de qualquer forma.

Ele: Muito obrigado pelo companheirismo.

Eu: Eu tenho alguma escolha?

Ele: Não, infelizmente não.

Eu: E aí o que me conta de novo?

Ele: Nada demais, daqui a uns 15 minutos eu vou estar 1,5% mais imbecil e você?

Ele acende o cigarro e eu começo a me encomodar, tenho rinite.

Eu: Tem como virar essa coisa pra lá?

Ele: Ué, você não quer?

Eu: Não, brigado.

Ele: Tanto faz, sobra mais pra mim...Mas conta, como andam as coisas?

Eu: Normais, entediantes como sempre - um momento niilista da minha vida.

Ele: Você ainda tá saindo com aquela guria lá?

Eu: Quem?

Ele: São tantas assim? Não sabia que eu estava falando com um pegador.

Eu: Falar "Quem?" é automático, acho que meu charme se equipara ao do Woody Allen, ou seja, meu futuro é me casar com minha enteada vietnamita.

Ele: Ela não é chinesa?

Eu: Não lembro, mas eu gosto do vietnã, no meu mundo ela é vietnamita.

Ele: Ok ok, na sua rua ela pode vir de qualquer lugar, continue a história antes que eu fique lento demais pra prestar atenção.

Eu: Não estamos mais juntos, quer dizer, nunca ouve um "Nós".

Ele: Mas você queria um "Nós" não é?

Eu: Queria, óbvio.

Ele: E por isso acabou? Nossa cara, você é tão clichê.

Eu: Não, calma...Não foi por ESSE motivo específico.

Ele: E foi porque? Vocês sempre combinaram...

Eu: Sempre combinamos né? Gostamos das mesmas bandas, mesmos filmes até gostamos de músicas ruins e obscuras da década de 80...

Ele: Garoto apaixonado, pare de falar merda e diga logo porque não deu certo.

Eu: Eu cansei.

Ele: Dela?

Eu: Não, cansei de ser o "Garoto-Me-Desculpa".

Ele: Eu sei que eu já estou lento mas, pode me explicar porque eu não consigo fazer um sintal de interrogação no meu rosto.

Eu: Eu sempre fui tratado como um erro para ela, ela enchia a cara e a gente se pegava, no outro dia tinha o que? "Desculpa, foi sem querer". Ela bebia e a gente dormia, no outro dia tinha o que? "Desculpa, eu me excedi" - Foda-se.

Ele: Hmm, gostei disso...Atitude.

Eu: O problema é que eu sempre voltava.

Ele: E o que você fez para parar?

Eu: Parei de voltar, ué.

Ele: Tão simples.

Eu: Não sou um brinquedo pra se usar e jogar fora.

Ele: Tava demorando pra começar os sentimentalismos...

Eu: Não é sentimentalismo, é a verdade.

Ele: Claro claro, ela usava os poderes mutantes de Jean Grey para controlar sua mente com uma ubber-libido matadora e te usava inúmeras vezes para se sentir melhor com seu ego enquanto o probre garoto se iludia com o maldito amor.

Eu: É como eu digo: "Uma vez é acidente, duas é coincidência mas três é ação do inimigo."

Ele: Isso é seu? Eu tenho a ligeira impressão que já vi isso em algum lugar.

Eu: Impressão sua, deve ser o efeito aí.

Ele: Nem duvido.

Eu: Hey, bora comer? Bateu uma larica.

Ele: Né? Em mim também, nem sei porque.

Nem era tão tarde, ninguém entendeu porque eu queria ir pra casa me trancar no meu quarto e esperar que houvesse algo na internet que eu não tivesse lido, nem eu entendia. Eu tava preferindo minha cama do que qualquer tipo de socialização, no meio do caminho fomos comer naquela lanchonete que não é tão limpa quanto eu desejaria que fosse, a garçonete do sorriso bonito não estava lá, mas eu acho que ultimamente tenho vindo aqui pelos molhos, descobri que ela tem uma aliança na mão esquerda.


Um comentário:

Juliana D. disse...

Como é que eu leio um texto que envolve 321524121 assuntos e consigo focar somente no coitado do "garto-me-desculpa" e do quanto ele pode estar sofrendo por isso?
acho que é culpa do autor. haha